Era uma vez...
Não é bem necessário, mas acho que há histórias que devem começar assim.
Há um Ele e uma Ela.
Ele vivia num país, ela noutro.
Conheceram-se virtualmente. Desconhecidos e desprovidos de imagem, só tinham frases. Fomentaram assim a curiosidade. Deram um passo para outra realidade.
- Vou estar perto de ti no final da semana.
- Sério?
- Podemos jantar?
- Sim.
Iam encontrar-se. Facto que desapareceu das conversas.
No dia marcado, o estômago dela borboletou o dia todo. Ele ocupou-se o dia todo para que passasse em menos tempo.
O jantar foi o de dois velhos amigos que não precisam rebuscar temas de conversa. Não deram pelo passar do tempo.
- Até amanhã?
- Sim, até amanhã.
E no dia seguinte voltaram a encontrar-se. Um já regressado. O outro tinha ficado.
E viveram felizes para sempre... Apenas porque se começou com era uma vez, é justo que termine assim.
Há dois anos, aliás, foi há mais de dois anos que liguei para o Olimpo. Foi complicado, mas lá me deixei de pruridos e fiz o meu pedido.
Antes tinha tentado e falhado. Acho que me atrapalhava. Ou isso, ou me enganei mesmo no que pedi!
Mas aquela secretária foi muito simpática. Talvez por isso me tenha sentido mais confortável para pedir tudo direitinho. E pedi...
Acho que a simpatia foi recíproca e ela "meteu uma cunha" à Deusa Afrodite. Demorar, demorou. Mas a 'encomenda' veio melhor que o pedido!
Já passou algum tempo... inclusive o tempo para reclamar... Mas decidi que estava na altura de voltar a ligar.
Demoraram mais tempo a atender do que da outra vez... Ouvi barulhos de linhas cruzadas, acho... Estava quase a desligar...
- Olimpo call center, bom dia, com que Deus deseja falar?
- Olá! Fala a Sophia. Eu liguei para aí há uns dois anos e tal... Acho que foi consigo que falei, deixei aí o meu pedido gravado. Lembra-se?
- Ah! A insistente!
Lembro-me do seu caso. A que optou por deixar o pedido aqui. De novo a ligar... há algum problema?
- Não, pelo contrário! Queria só agradecer-lhe. Anotou tudo e até bem demais. Acho que não pedi tanto. Fui surpreendida. A senhora falou com a Deusa?
- Hum... pode dizer-se que sim. Sabe, aqui temos um arquivo com todos os pedidos e resultados. Ficámos todos impressionados com o facto de ter deixado o seu pedido logo aqui. Até hoje, continua a ser a única.
Eu fui ver o seu processo... A menina não teve sorte... e algumas vezes não teve juízo!
Não pude deixar de concordar, mentalmente.
- Li o seu pedido e fiz algumas alterações. Desta vez não a ia deixar queixar-se da sorte. Pelo que tenho visto... hummm... acho que acertei!
Momento de silêncio... no qual procuro sair daquele embaraço... como pelo que tem visto?...
Ela leu-me os pensamentos.
- Não fique assim! Os mortais têm TV por cabo e por satélite, nós temos ligação directa às vossas vidas! É justo, não acha?!
Fiquei com a impressão que era uma pergunta retórica. Mantive o silêncio. Seria um erro prolongar aquela conversa seguindo aquela linha.
- Eu só liguei mesmo para agradecer. Espero não ter que voltar a ligar...
- Vou contar-lhe um segredo. Talvez não volte. Acredite que eu sei o que fiz. Adeus Sophia.
Pousei o telefone. E só então percebi com quem tinha falado...
- Deusa Afrodite, posso?
- Diga Servilia.
- Pediu-me para a avisar se a Sophia voltasse a ligar. Está recordada?
- Eu sou uma Deusa. Não me esqueço. Ela está em linha?
- Está à espera que alguém a atenda.
- Óptimo. Então deixe-me atendê-la. Estou curiosa para saber o quer desta vez. Já há algum tempo que não sintonizo o canal da vida dela.
...
...
...
- Servilia, a Sophia queria agradecer-lhe por ter anotado tão bem o pedido.
- Mas a Deusa é que fez as alterações.
- Eu disse-lhe. Mas só no fim é que percebeu que esteve a falar comigo.
Vamos deixar de sintonizar a vida dela. Acho que, pelo menos, por agora, não é mais motivo de preocupação neste departamento.
- Mas Deusa, podemos sintonizar de vez em quando, não podemos?
- Eu bem lhe disse. Os mortais têm as novelas deles, nós temos as nossas!
Sou mago feiticeiro... a minha bola de cristal é folha de papel...
Mas lembro-me que não sei fazer magia e a folha fica em branco.
Não peço para ser como Pessoa e ter o dom da cartas ridículas, apenas poder traçar umas linhas de amor alinhavadas pela saudade já me satisfaria. Dizer todos os lugares comuns desde a imensidão do mar à vastidão do universo sem esquecer o brilho das estrelas e dizer tudo isto sem vulgaridades, bastava ser ridícula. Mas é fácil dizer amor. É fácil dizê-lo quando ele já se embrenhou na pele e se entranhou no ser... e não há diferença entre o amor e o ser...
Não há outra forma de o sentir. Tem a imperfeição perfeita. O brilho natural. Encanta-me a sinceridade. Fascina-me o sorriso.
Corrijo-me...
Perfeito, perfeito foi todo o fim-de-semana!
... I'm glad I spent it with you ...
Uma das boas recordações que tenho é uma viagem ao Porto com três amigos.
Duas viagens memoráveis de comboio.
Ida em Regional. Bancos antigos, corridos. Não fosse o que a carruagem tremia e até dava para um piquenique ali no meio. Carruagem com pouca gente. A companhia e mote de conversa foi um jornal. Lido pontualmente em voz alta. Acho que chorei de tanto rir.
O dia por lá estava ameno.
Fomos a pé da estação ao nosso destino.
Ainda falta muito? Não. É já ali. Sim. Já ali. Quase uma hora de caminho, sempre a subir. Já ali...
Emoções fortes. Saída antecipada. Ai o comboio das 20h!
Correria. Táxi louco.
Regresso no Intercidades. Mais conforto. Menos prático para conversa entre quatro pessoas.
O jornal já não estava lá. Conversa pacata! Criança especada a ouvir-nos. Silêncio. Criança regressa ao seu lugar com um monte de dúvidas e perguntas novas para a mãe... Mais conversa!
Regresso a casa.
Viagem para guardar na memória.
Foto daqui
O mar ficou mais azul. Menos uma nuvem paira no céu. Gosto de saber que o tempo vai ajudando a desviar as nuvens. Uma após outra. Torna o mar mais ameno para navegar. Há dias de perfeita tempestade. Oscilo entre a necessidade de não deixar o barco ser tragado pelas ondas e a expectativa de bolinar. Uma nuvem dissipa-se. É menos complicado marear. É importante saber que há calmarias e tempestades. Convém não ter medo de naufragar. Os olhos fitam o horizonte.
Alter Ego
Egos de bem querer
Egos de bem dizer
Dizem que é uma espécie de bwog
Egos de bem ler
Mulher à beira de um ataque de...