Segunda-feira, 8 de Outubro de 2007

Meu amor,

Tentei não te escrever.

Imaginei inúmeras cartas desde que partiste. O amor que  me deixaste é o bastante, mas não colmata a tua ausência. Como poderia?

Hesitei escrever-te. Hesitei porque me custa saber que não obtenho resposta.

Visitas-me em sonhos, tal como eu te visito todas as horas do meu dia.

Tal como tu, já gastei as cartas que me escreveste. Longas foram as noites em que te chorei. Já não o faço, por ti, por ele, por mim. As memórias que guardo de ti, de nós, são felizes. As lágrimas que me permito chorar são essas. As de felicidade. Algumas ainda me caiem de saudade.

Olho para o futuro, sem ti, comigo e com ele. Vejo ainda um vazio que ficou, que fica. O vazio do teu corpo. Sei que me lês e me acompanhas. Mas já não sinto o teu toque. O teu prazer. O meu corpo foi abandonado. As minhas noites tornaram-se frias.

Os meus dias inférteis, não fosse a promessa que te fiz de lhe falar todos os dias em ti e nada faria sentido. Ele ouve-me. Sorri.

Tu continuas a ser o motivo do meu sorriso, ele, o meu brilho no olhar.

Não posso desejar juntar-me a ti. Ainda não. Mas a seu tempo sei que o farei.

Quando partiste levaste-me. O que ficou, ficou com um único propósito, continuar o nosso amor.

Trago-te comigo e guardo-te. Não. Ostento-te. Sorrio mesmo quando o meu coração só tem a tua memória. Falo de ti a quem me quer ouvir. Falo do nosso amor. Mesmo quando me dizem que o tempo me há-de mudar. 'Não podes continuar assim, tens a vida pela frente.' Sei que tenho. Uma vida, gerada com amor, pela frente. É essa vida, tua também, que eu tenho, que eu amo.

Serei sempre tua, do amor que me deixou ficar, mas que um dia me há-de levar.

O teu eterno amor.

 

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Egotismo de Sophia às 14:53

Sexta-feira, 21 de Setembro de 2007

Ex.mos Senhores,

Quero que também esta carta o acompanhe. Ele há-de lê-la.

Grata pela vossa simpatia.

 

Meu amor,

 

Não te respondi porque, por amor, queria apenas paz para ti.

Sei que não partes com raiva de mim. O nosso amor não to permite.

Quero que esta carta seja a mais curta que te escrevo.

Terás todo o tempo do mundo para nos acompanhar e saber a verdade do que te digo.

Sei que me perdoas o que fiz. Não cumpri o que te disse. A mentira também coabitou em mim.

Contra o que me pediste, tenho comigo um novo amor, teu.

Tal como pediste, vou falar-lhe de ti todos os dias da minha vida.

Sou tua até que a morte me leve. Serei tua mesmo depois de ela me levar.

O teu eterno amor.

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Egotismo de Sophia às 13:16

Quarta-feira, 19 de Setembro de 2007

Exma. Senhora,

Vimos por este meio informá-la que o senhor deixou de ter capacidade para escrever. Ditou a carta que segue em anexo. Lamentamos, mas será a última, uma vez que desde ontem perdeu também essa capacidade. Deixou expressa a vontade de permanecer aqui e de não receber quaisquer visitas.

As nossas mais sinceras condolências.

 

...

 

Meu amor,

 

Não respondeste.

Quando receberes esta carta eu já não poderei, certamente, ler uma resposta.

Não pensei que a tua vontade de omissão falasse mais alto que a tua verdade, mas falou. Fui duro contigo. Não o mereces.

Quero que saibas que sempre, desde que entraste na minha vida, procurei que o meu caminho fosse o de fazer-te feliz. Acho que o consegui. E sinto que fracassei.

Não quero com esta carta aumentar a tua mágoa. Nada me teria dado mais alegria do que partilhar estes últimos meses contigo. E partilhei. As tuas cartas foram lidas e relidas ao desgaste. Vão ser a minha última companhia.

A raiva passou. Gostava de ter sabido do teu novo amor. Mas respeito-te.

A minha vida foi feliz contigo. Não tenho mágoa, nem mesmo pelo final.

Se puder, quero acompanhar-te. Ser parte da tua vida. Da tua memória. Do teu coração.

Tenho apenas um pedido. Estranho. Ou talvez não. Mas, ainda assim, um último pedido a fazer-te. Acredito que  a tua vida tomará um novo rumo.

Fala de mim aos teus filhos. Nem que me contes como se fosse o amigo de uma amiga.

Apenas to peço porque gostaria que fossem meus. É egoísmo. Mas quero pensar que um dia os teus filhos me vão conhecer.

Ainda te amo e sei que nós será o meu último pensamento.

O teu velho e sempre amigo que não deixa de te amar.

 

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Egotismo de Sophia às 13:44

Quinta-feira, 13 de Setembro de 2007

Minha cara,

Custa-me ler-te e finalmente interiorizar a mágoa que te causei. Tudo o que queria era minimizar o teu sofrimento.

Dói-me saber que o meu estado te faz considerar-me fraco. Optas omitir-me que amas? E ainda sim dizes que é amor o que sentes por mim e não piedade?

Ao fim de tantos meses e de outras tantas cartas admito que me fazes falta. Estas cartas não me bastam agora. Quero olhar-te nos olhos e saber tudo desse outro amor. Quero um diálogo sincero. Sei bem que em ti não coabita a mentira. Conheço-te. Mas, agora, não te entendo.

Confesso que procurei afastar-te com a carta anterior. Se te dissesse que amesquinho o que sinto por ti, deixar-me-ias. Pedindo-te  e oferecendo-te apenas amizade iria magoar-te.  Magoei-me.

A tua resposta jaz agora com fita cola depois da raiva com que a fustiguei. Estive indeciso entre responder-te ou esquecer-te para sempre. A curiosidade impediu-me, a solidão travou-me. De que adianta negá-lo, o amor não me permitiu afastar. Continuo a ser egoísta. Quero saber tudo. Exijo-to!

Exijo-to, porque ainda te dizes minha.

Não me respondas a não ser para me contares a verdade.

Por mais que a raiva me tolde a escrita, sei que o meu amor é teu.

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Egotismo de Sophia às 12:40

Segunda-feira, 10 de Setembro de 2007

Meu querido amigo,

Se te faz mais feliz, eu minto. Trato-te como se fossemos apenas velhos amigos. Mas para isso tenho que imaginar que escrevo a outra pessoa.

Meu caro,

a minha vida de há uns meses para cá mudou muito. Fiquei sozinha. O meu amor foi forçado a partir e começou uma viagem na qual não o posso acompanhar. Nos primeiros dias refugiei-me em casa e chorei. Amaldiçoei a vida que foi injusta. Amaldiçoei-o por me ter abandonado. Eu poderia ter tomado conta dele. Tê-lo-ia feito sem uma ponta de mágoa, mesmo não podendo mais ter o meu amante, teria o meu companheiro, o meu amigo. Redobraria cuidados para que nada lhe faltasse. Estaria sempre presente e cuidaria dele até ao fim. Ele não quis.

E só me restou cumprir a vontade dele e ficar. Fiquei.

Mudei a minha rotina. Acordava e escrevia uma carta. Na qual lhe contava todos os meus passos do dia anterior e os planos para o dia que começava. Era muito repetitiva e falava sobretudo de amor, tristeza, dor e saudades.

Com o passar do tempo achei que isso só o maçaria mais e decidi não ser portadora de tristezas. Optei por contar as novidades de pessoas conhecidas e algumas mudanças no bairro em que crescemos. Guardava apenas um pequeno parágrafo para falar de mim e do que sentia, deixando muitas coisas por escrever.

Ele conseguiu perceber que a preocupação não me abandonou. Ofende-me pensar que por momentos confunde amor com piedade. Mas não lhe levo a mal. Em parte tem razão. Há algo que lhe omito sim. Não lhe sei mentir. Omito por ser melhor. Digo apenas que já não estou sozinha. Encontrei também eu uma outra forma de amor.

Serei sempre do amor que me deixou ficar.

A tua amiga de sempre.

 

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Egotismo de Sophia às 11:35

Quinta-feira, 6 de Setembro de 2007

Minha querida,

Não sei bem como começar esta carta. Posso ser bem educado e começar por agradecer a última que enviaste. Não o dizes claramente, mas já me habituei às tuas subtilezas e subterfúgios. Sei que estás preocupada comigo. Não estejas. Sei que escrevo isto em vão. Mas não quero que penses em mim mais que o necessário.

Desde que parti que penso na nossa despedida. Prometeste-me que irias continuar a tua vida. Não te irias demorar comigo, só porque eu estou aqui. Pedi-te em nome do amor que sentias, que não te apiedasses de mim. Isso matar-me-ia mais rapidamente. E tu prometeste. Disseste que só me irias escrever quando o teu tempo fosse tão largo e desocupado que eu te apareceria na memória. E, no entanto, escreves-me todos os dias.

Desde que te deixei que a tua presença me acompanha. Mesmo que eu já não quisesse pensar em ti, as tuas cartas chegam e acordam-me, acordam tudo o que quero adormecer.

Não consigo, nem quero, pedir que deixes de me escrever. Agora já não sei como continuar sem as tuas cartas e tento não pensar no dia em que deixarão de chegar.

Não me contas nada da tua vida. Sei que estás bem. Ainda triste com o rumo que nós tomámos? Ou é apenas a piedade que fala mais alto. Não sei se o amor te chegou de novo. Se cumpriste os desejos do teu coração. Mas gostava de saber.

Sempre te disse que só conseguia ter por ti o amor egoísta de te saber e sentir minha. Mas a vida mudou-me. Agora que estou longe e distante de ti, nutro um outro amor. Quero saber de ti como de uma velha e sempre amiga. Diz-me que encontraste alguém, que não este que escreve, para te acompanhar na vida. Conta-me o que omites nas tuas cartas de há meses.

Serei sempre teu e o meu amor há-de partir contigo na memória.

A partir de agora assino,

O teu velho e sempre amigo.

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Egotismo de Sophia às 10:20

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