Ficção de mim. Um mundo que se veste de aparência, esforça-se em vão para iludir a essência. Máscaras sem fim, que quase nos fazem perder o centro da razão. Mas também as uso, por vezes, no dia-a-dia. Protegem-me.
Não dou tudo de mim, porque em mim não conheço tudo. Parte do que fui, sou, sei. Sei que sou grande parte do que me conheço para poucos. Sei que sou quase tudo o que me conheço para ti. Tudo o que sei que sou, sou-o sozinha, frente a mim, só para mim.
Até mesmo quando o corpo me pede um pouco mais de alma... *
Já não sou eu. Não sou eu que acordo no meu corpo. Reconheço-te cada vez que olho ao espelho. Já não me vejo. Vejo-te. Não queria que despertasses. Julguei-te enterrada bem fundo no meu ser. Bem longe da minha alma. Mas, quando fraquejo, pressinto-te. Tentei negar-te. Ignorar-te. De nada adiantou. Tu surges plena de força. Sempre quando as minhas forças me fogem. Me abandonam. Não é maldade, é socorro. Só não te perdoo que destruas tudo na passagem. Nada me fica após a tua passagem, a não ser eu, só. Diferente, mais uma vez. Desta vez não te quero. Há algo a preservar. Não te deixo destruir-me o coração. Quero forças para te anular, anular o pior de ti, de mim. Quero manter o melhor de mim.
Acordo.
Dividida.
Entre sentir e pensar, entre partir ou ficar.
O que o coração me pede e precisa está a despedaçar-me. A deixar-me estilhaçada pelo atropelo da vida. A razão, parte-me o coração. É arrancá-lo do peito a sangue frio entre dor e lágrimas de sangue.
Não há justiça em viver. Não é como os contos de fadas que nos embalam o adormecer infantil. É dura realidade que custa abraçar. É tentar domesticar o indomável.
Sento-os a jogar xadrez. Uma antevê todas as jogadas até ao xeque-mate. O outro reage por impulso a cada jogada e altera-lhe todo o plano. O jogo termina empatado.
Eu fico na mesma. Fecho os olhos. Entre o coração e a razão cerram-se posições. Já não há unidade. Foi-se a coerência. Cada um puxa para seu lado e é a mim que estão a desmembrar. Abro os olhos para ver a desolação em redor. O espaço escorre sangue e estou aos bocados.
Finalmente, cansam-se. Olham para mim, impotente. Apiedam-se de mim, talvez. Unem-se para me unir.
Fecho os olhos para adormecer para o mundo.
Não é a dor que é cruel, é o amor que rasga a pele...*
Ontem voltei a ter um dos meus ataques nervosos. Chorei. Chorei. Chorei como se não houvesse hoje. Ele fez o que pode para me consolar. Nada. Mas esforçou-se, e isso, hoje, conta muito. Desta vez não gritei. Falei um bocado mais alto que o costume, mas consegui não berrar, nem partir nada. Fiquei surpreendida com esta nova modalidade de neurose.
Maldisse toda a minha anterior existência. Exceptuei-o, para não o magoar. Mas o desejo interior que me gritava sem parar impelia-me a maldizer toda a existência desde a génese paternal. Ontem bastava-me ter nascido com qualquer outra condição que não humana. E foi assim que o tardio da noite se abateu sobre mim. Saí para rua. A claustrofobia agudiza-se nestas situações. Ar e espaço. Muito.
Caminhei sem direcção. Vagueei pelas sombras da minha vida. Perdi-me pelos meus fantasmas. O caminho, instintivamente, levou-me, novamente, a casa. A ele. A nós.
Alter Ego
Egos de bem querer
Egos de bem dizer
Dizem que é uma espécie de bwog
Egos de bem ler
Mulher à beira de um ataque de...